A cirurgia é o tratamento definitivo para os tumores glômicos. Algumas vezes, esse procedimento pode representar um desafio, pois, apesar de ser um tumor bem delimitado, a sua visualização pode ser difícil. O uso da dermatoscopia do leito e da matriz ungueal facilita o diagnóstico e auxilia a localização e delimitação do tumor. Trata-se de método simples e de baixo custo que não implica risco adicional ao paciente que irá se submeter a um procedimento cirúrgico.
Dermatoscopia; Doenças da unha; Tumor glômico
Surgery is the best treatment for glomus tumors. Sometimes this can be a challenging procedure because, despite being a well-defined tumor, its visualization can be difficult. The use of nail bed and matrix dermoscopy facilitates the diagnosis and aids in the localization and demarcation of the tumor. It is a simple and low-cost procedure that does not involve additional risks to the patient who will undergo surgery.
Dermoscopy; Nail diseases; Glomus tumor
IMAGENS EM DERMATOLOGIA
Diagnóstico do tumor glômico pela dermatoscopia do leito e da matriz ungueal
Laura de Sena Nogueira MaeharaI; Eugenia Maria Damasio OheII; Mauro Yoshiaki EnokiharaIII; Nilceo Schwery MichalanyIV; Sergio YamadaIV; Sergio Henrique HirataIII
IResidente do 3º ano da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) - São Paulo (SP), Brasil
IIEspecialista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) - São Paulo (SP), Brasil
IIIDoutor pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) - São Paulo (SP), Brasil
IVMestre, docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) - São Paulo (SP), Brasil
Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Sergio Henrique Hirata Departamento de Dermatologia Universidade Federal de São Paulo Rua Borges Lagoa 508 Vila Clementino 04038 001 São Paulo, SP - Brasil
RESUMO
A cirurgia é o tratamento definitivo para os tumores glômicos. Algumas vezes, esse procedimento pode representar um desafio, pois, apesar de ser um tumor bem delimitado, a sua visualização pode ser difícil. O uso da dermatoscopia do leito e da matriz ungueal facilita o diagnóstico e auxilia a localização e delimitação do tumor. Trata-se de método simples e de baixo custo que não implica risco adicional ao paciente que irá se submeter a um procedimento cirúrgico.
Palavras-chave: Dermatoscopia; Doenças da unha; Tumor glômico
Durante muito tempo, alterações ungueais foram relegadas a segundo plano por médicos de várias especialidades. O surgimento de um crescente interesse no diagnóstico e tratamento dos distúrbios ungueais1 transformou uma área antes negligenciada por clínicos e pesquisadores em um campo de conhecimento atraente e obrigatório para os dermatologistas.
Os tumores glômicos correspondem a 1-5% dos tumores das partes moles das mãos. Trata-se de hamartomas benignos dolorosos e com sensibilidade aumentada ao frio. Originam-se do aparato mioarterial normal e são compostos por uma arteríola aferente e canais vasculares com endotélio, rodeados por células cuboides. 2,3 Aproximadamente 75% dos tumores glômicos localizam-se nas mãos, particularmente, no aparelho ungueal. Apresentam-se como nódulos róseo-azulados de localização subungueal e raramente levam a alterações da cor ou deformidade da lâmina ungueal.
O diagnóstico do tumor glômico faz-se através de exames clínicos e de imagem.
Fazem parte da análise clínica avaliações realizadas mediante as seguintes manobras:2
Teste do alfinete de Love (Loves pin test): possibilita a detecção da dor localizada na lesão, sendo positivo se o paciente retirar o dedo em consequência da dor;
Teste de Hildreth: é a repetição do teste anterior após a instalação de torniquete; nesse caso, a dor está ausente;
Teste de sensibilidade ao frio: aumenta a intensidade da dor com a diminuição da temperatura;
Transiluminação;
Dermatoscopia da lâmina ungueal.
Tumores glômicos, em geral, são pequenos e raramente palpáveis, o que faz com que os exames clínicos sejam insuficientes para determinar a sua localização precisa.4,5,6
Os exames de imagem auxiliam na localização exata do tumor e na avaliação pré-operatória de seu tamanho, dado importante para a escolha da abordagem cirúrgica.7 O ultrassom aponta lesões comumente hipoecogênicas de até 3mm de diâmetro, porém é exame operador-dependente.5 A ressonância magnética é mais sensível e evidencia a extensão da lesão. Sua desvantagem, além do custo, é a baixa especificidade (50%, produzindo imagens semelhantes em casos de cisto mucoide, hemangioma, inclusão epitelial e tumor de células gigantes de tendão). 6,8 A principal vantagem é a alta sensibilidade (90%), especialmente, se utilizada alta resolução, que detalha as características do tumor e permite o diagnóstico enquanto ainda pequeno.6,7
O exame dermatoscópico da lâmina ungueal pode evidenciar a presença de estruturas vasculares, porém, algumas vezes, estas podem ser discretas ou ausentes (Figura 1).
Uma vez feito o diagnóstico, a cirurgia de remoção do tumor é o tratamento definitivo, com alívio imediato da dor no pós-operatório. O procedimento-padrão é a excisão direta.2 Existem técnicas alternativas que envolvem incisão lateral, que permite a exposição do tumor sem a avulsão da lâmina ungueal, reduzindo a chance de deformidade no pós-operatório, porém aumentando a de ressecção incompleta do tumor.2,5
O tratamento dos tumores glômicos pode representar um desafio, pois, apesar de ser um tumor bem delimitado, a sua visualização pode ser difícil, algumas vezes. A recidiva costuma ocorrer em semanas e é consequente à incompleta excisão tumoral que ocorre, não raro, devido à dificuldade de se distinguir o tecido normal do tecido doente.
Para contornar essas dificuldades, sugerimos a dermatoscopia do leito e da matriz ungueal,9,10 previamente à exérese do tumor. Trata-se de procedimento feito durante o intraoperatório, após a realização de bloqueio anestésico e avulsão cuidadosa da lâmina ungueal. Recomenda-se o uso de torniquete para impedir sangramentos que possam dificultar a visualização das estruturas a serem examinadas. O torniquete não deve ser muito apertado, pois a isquemia pode impedir a visualização das estruturas vasculares. Utilizando o dermatoscópio de luz polarizada, é possível o exame de todo o leito e matriz ungueal sem contato com o campo cirúrgico, preservando-se as condições de assepsia.
Essa técnica auxilia a localização do tumor e a visualização do padrão vascular da lesão (Figura 2), sugerindo o diagnóstico de tumor glômico. Especialmente quando o tumor não é encapsulado, o uso da dermatoscopia facilita a delimitação das margens cirúrgicas no intraoperatório (Figura 3) e permite que se visualize, após a exérese da lesão, se existem outros focos macroscópicos residuais do tumor no aparelho ungueal (Figura 4).
A realização da dermatoscopia não substitui o exame histopatológico, que sempre deve ser feito. O estudo do leito e da matriz ungueal revela novos aspectos não observados quando a lâmina ungueal se interpõe entre a lesão e o dermatoscópio. Trata-se de método simples e de baixo custo que auxilia o diagnóstico e a exérese da lesão, não implicando risco adicional ao paciente que irá se submeter a um procedimento cirúrgico.
Recebido em 22.01.2010.
Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 29.01.2010.
Conflito de interesse: Nenhum
Suporte financeiro: Nenhum
* Trabalho realizado Departamento de Dermatologia da Universidade Federal de São Paulo
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- 10. Hirata SH, Yamada S, Almeida FA, Tomomori-Yamashita J, Enokihara MY, Paschoal FM, et al. Dermoscopy of the nail bed and matrix to assess melanonychia striata. J Am Acad Dermatol. 2005;53:884-6